Um dia de experimentação na praia

A experimentação, através da prototipagem, pode ser um meio de interação entre diversos atores. Em contramão à dicotomia pré-existente, vê-se possível um equilíbrio entre as extremidades. Passa-se a projetar levando em conta os papéis que desempenham os atores humanos, como também aqueles desempenhados pelos artefatos técnicos. Como em qualquer interação, ambas as partes se influenciam e impactam na existência uma das outras. Tais interações estão presentes a todo momento, até mesmo em um simples passeio na praia. O tocar dos pés na areia ao chegar. O impacto que o som das ondas do mar gera ao alcançar os ouvidos. O transformar da areia em um castelo com a ajuda de um balde e uma pá. Distintos atores interagindo: animados, inanimados, materiais, imateriais, técnicos, sociais. Se relacionam de forma consciente e, por vezes, inconsciente. De repente, as nuvens e raios no céu preveem o futuro do castelo de areia: desmoronar através dos pingos da chuva.

Seria essa uma antecipação do futuro? Visões de um passado e do momento presente fazem com que o destino do castelo de areia mude de direção quando a dona da criação abre o guarda-sol em cima da criatura. Agora, quem interage com a chuva é o guarda-sol e não mais o castelo de areia. Constrói-se um novo futuro a partir da presença no aqui e no agora. O guarda-sol interage com o castelo dando-lhe proteção, que interage com a sua criadora que coloca um sorriso no rosto ao vê-lo intacto e, que sente satisfação ao lembrar de ter trazido o guarda-sol em um passado não tão distante. Relacionam-se passado, artefato, presente, pessoa, futuro. Por fim, questiona-se: seria possível excluir a atuação dos artefatos inanimados no nosso mundo de inter-relações, plurissignificações e emoções tão plurais?

Criação de um roteiro e vídeo de animação ao longo da leitura do texto: Meyer, G. A Experimentação como Espaço Ambivalente de Antecipação e Proposição de Controvérsias. Revista Estudos em Design. Rio de Janeiro: v.26/n.1, p. 29-47.2018.