“Tudo que vai, um dia volta”
- Luhcas Alves
- 15 de set. de 2021
- 2 min de leitura

Toda vó já disse, pelo menos uma vez, que “tudo que vai, um dia volta”. Não é necessário dizer que elas sempre têm razão, mas cabe ampliar a ideia que o design ontológico propõe que nós projetamos o mundo e o mundo nos projeta - sendo que nessa simbiose, nesse círculo hermenêutico, as relações, de fato, representam círculos eternos de diálogos. Se estar no mundo é inevitavelmente circular, interpretar os componentes, as relações e os processos presentes ali, fazem parte do design ontológico.
A partir disto, é apresentado o segundo protótipo materializando as relações circulares desse indivíduo com o mundo e sua produção, por meio de um bolo, em forma circular, resgatando o velho dito popular, aqui alegoricamente personificado pela avó “Tudo que vai, um dia volta”. Da mesma forma que o jarro, enquanto coisa que ganha vida, evocando diversas socializações, usos e símbolos, que – talvez – estejam fora do projeto de design; um bolo de vó assume também sua natureza retentora, pois nutre uma ideia de compartilhamento, memórias, olfato (sentidos), de carinho, de simbolismos maiores que a saciedade e nutrição de um mero bolo. Em contraponto o bolo utilizado no protótipo é de uma grande rede de supermercados, que como o suco em caixa TetraPak®, que é um objeto em si e despretensioso, serve apenas para saciar a fome, dialogando com as necessidades de um mestrando azafamado.

O lusco-fusco dessa discussão de onde resultam as trocas do sujeito>mundo>sujeito e a argumentação que surge ao longo da apreciação (relacional) do protótipo, é apresentado por duas alegorias que são contrapontos:
1 – O Palíndromo “O lobo ama o bolo”, que pode ser lido de trás para frente da mesma forma, representa o movimento de ir e voltar, sem nenhuma diferença – apenas um movimento.

2 - Um símbolo místico chamado Ouroboros (a cobra que morde o próprio rabo), que representa a eternidade mas também ganha conotações de renovação, de mudança, da força que põe a vida em movimento em algumas religiões afro-brasileiras.

Assim o protótipo se torna um exemplo possível a ser ilustrado no artigo, encarando a ideia de que "não importa para onde olhamos
- no objeto de design, no processo de design ou na agência de design - nunca há um começo ou o fim do design, porque a universalidade situada está sempre presente e é sempre animada por um círculo hermenêutico."

Texto: Willis, A.-M. (2006). Ontological Designing: laying the ground. Design Philosophy Papers, 4 VN-re (2), 80–98.
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