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Quer um cuidado?



Ao longo da minha leitura sobre o texto, o argumento que mais me chama a atenção é a ideia de ler o cuidado como se fosse uma ética dentro das coisas, por uma linha de entendimento sobre a política das coisas e a importância que se tem a inserção desse sutil cuidado. O fato de entender a inserção do cuidado desde a base do que se produz, se pensa, se idealiza uma coisa (aos mais sensíveis, muitas vezes pode ja estar presente inconscientemente essa ética ao produzir) é primordial, mas entrando com a potência de ser algo intencionalizado, pode elevar essa produção para outro nível.


Com esse entendimento de argumento em mente, comecei a pensar sobre em quais coisas eu implico o cuidado nas pequenas construções do meu cotidiano, desde o momento do pensar, ao longo do fazer e sentindo o resultado sendo coerente com o que isso simboliza. Ao muito pensar, me dei conta sobre o ritual iniciado ao longo desse semestre de levar um chimarrão para a sala de aula.


Ao longo de todo esse semestre, eu estou levando chimarrão para aula, e, ainda que sem a intencionalidade de gerar alguma atmosfera de cuidado, vejo o cuidado como um valor percebido pelas pessoas que recebem a cuia em suas mãos. Sempre, ao alcançar a cuia para uma pessoa, vejo o semblante do rosto mudar, como se a pessoa estivesse reagindo a um ato de amor. Um simples chimarrão como algo representativo de cuidado.


Com isso em mente, para a aula relacionada a esse texto da Bellacasa de experimentação, decidi por construir intencionalmente o chimarrão como um artefato recheado de cuidado. Desde a concepção, até o modo como derrubei a erva por cima da cuia para deixar mais harmônico e ver como essa atmosfera do cuidado seria transmitida e recebida pelas pessoas, mesmo sem dizer nada sobre o chimarrão ser meu protótipo. Comecei a oferecer despretensiosamente para as pessoas que estavam próximas de mim, inclusive ao longo da aula fui mudando de lugar para alcançar mais pessoas.


Dessa vez com a intencionalidade de ver como as pessoas reagiriam ao ver a oferta do chimarrão, percebi que absolutamente todas as pessoas demonstravam uma reação que mesclava a surpresa, o carinho, o respiro. O artefato do chimarrão, era recebido como se fosse um afago dentro do coração. É até engraçado que ao longo do tempo, conforme as pessoas vão tomando da mesma cuia, o mate vai se transformando, por vezes entope a bomba, por vezes cai e transforma a cuia em uma pequena piscina, mas, apesar disso tudo, a receptividade em cima do chimarrão, ainda é sempre sempre a mesma.


Fazendo uma breve análise sobre o artefato chimarrão, se percebe um pouco da construção política de ser um iniciador de momentos sociais, mas permitindo com que o chimarrão tenha uma própria voz dentro das interações, influenciando nessas relações sociais de forma democrática. O chimarrão, por si só já é uma cultura de cuidado, o seu preparo, ainda que mecânico, é um ato de amor relacionado a serviço; aos que o recebem, O sentimento e o simbolismo do seu preparo, em união com o afago que é acalentar o corpo, geram uma atmosfera de cuidado que é percebida por todos que a compõem.

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