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Prototipando através do incômodo

(Protótipo A)


Ler ouvindo (bem alto): https://open.spotify.com/track/6tHjflnbKM2RGWl60ES0bb?si=YIwF7rfmS_678x WZudNyIQ&dl_branch=1


Sentada na sala de casa, me organizo para realizar a leitura do texto e desenvolvimento do protótipo. A escolha por esse espaço se deu por conta da sua amplitude, claridade e, principalmente, pelo silêncio. O silêncio sempre se fez essencial em qualquer processo em que eu precisasse me concentrar. No entanto, sem ao menos ter conseguido terminar de ler o resumo da primeira página, o primeiro acorde de guitarra ressoa pela casa inteira. Alto, forte, potente, bem a cara de meu pai. Isso deveria ser normal, visto que ele é músico, mas ensaios não são muito comuns por aqui, justificando o estranhamento. Me pego logo pensando “poxa, justo hoje, no único momento que terei para ler o texto...”. É fato que estava sendo interrompida a cada parágrafo que lia, a cada olhar um pouco mais distraído que dava e, quando via, precisava reler tudo que acabara de ler pois estava eu, novamente, cantarolando as músicas do bendito ensaio. Não adiantava trocar de ambiente, muito menos colocar fones de ouvido...

Foi dessa vivência que parei para refletir sobre a relação entre o assunto que o texto trazia e a música. Em um primeiro momento, ri comigo mesma pensando nas definições iniciais de protótipo que vimos na primeira aula e na hora me veio a cabeça que, de alguma forma, o que meu pai estava fazendo enquanto ensaiava, nada mais era do que o protótipo de um futuro show, não é mesmo? Mas o texto nos traz uma definição que vai muito além dessa. Tanto a música quanto o design, são comumente compreendidos como e distinguidos entre o técnico e o social, de maneira que aqui se faz necessário entendê-los como atores importantes em ambos aspectos. Nesse sentido, se traz a questão de que um protótipo, dentro da experimentação em design, passa ser entendido não só como um artefato técnico, mas também capaz de contemplar, expressar e conduzir diferentes ideias, operado por diversos atores, sendo o seu processo, por vezes, mais revelador que o próprio resultado final.


O mesmo pode ser compreendido em se tratando da concepção de uma música, não sendo possível reduzi-la apenas à técnica e objeto de apreciação auditiva, mas também como símbolo que expressa e reflete acontecimentos, relações e significados. Em ambas as situações, tanto a ação de experimentar através de um protótipo quanto a música, podem ter seus significados modificados e reinterpretados quando em contato com atores distintos e inseridos em diferentes contextos, conforme os seus interesses, crenças, situações e culturas. Dessa forma, é possível entender a música como um protótipo por sua capacidade de instigar, provocar, manifestar e produzir significados distintos, a depender de quem ela irá atingir, indo muito além de uma produção técnica, operando também sentidos.


O protótipo aqui desenvolvido busca representar a relação entre o momento da leitura do texto com a incomodação e, ao mesmo tempo, inquietação que ele causou, resultando na reflexão apresentada, justificando-se através das imagens que o constituem, sendo parte delas retiradas de um dos clipes das músicas que estavam sendo ensaiadas e que, por si só, mesmo sem a letra, passa uma ideia(ainda que ainda não tão clara), do que os autores estavam buscando expressar através da canção (que tem como nome Diário de um Mundo Perdido).


Por fim, resgata-se aqui a fala do professor Guilherme enquanto nos introduzia a atividade “(...) não é simplesmente uma leitura convencional”, de fato, não foi. Não só pelas constantes intercorrências que me ocorreram e incomodaram ao longo da leitura, mas pelo que as próprias me fizeram refletir, desenvolver e prototipar ao longo do processo. O protótipo aqui em questão, foi adversário não só na prática, mas também enquanto reflexo e representação de algo que começou como um incômodo e, por fim, virou justificativa do argumento.


Por Giulia Locatelli, reflexões a partir do texto: A experimentação como espaço ambivalente de antecipação e proposição de controvérsias - Guilherme Englert Corrêa Meyer (2018).

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