O modo mais genuíno de ser designer
- Daniele Lopes
- 20 de set. de 2021
- 2 min de leitura

Tenho parado muito para me perguntar: seria eu uma designer de fato? Quando Enzio Manzini diz “É, portanto, designer, qualquer sujeito, individual ou coletivo, que intervém no mundo de maneira consciente. Isto é, ciente das próprias intenções e do campo de possibilidades de que dispõe”, penso muito se é possível mesmo qualquer indivíduo ser. Mas então, seria eu capaz de criar, projetar, sentir e ser sentido? Em que momento me vejo suficiente a visualizar um futuro não existente, mas possível de ser construído? Percebo que começo errando quando até agora o que escrevo se diz respeito ao Eu. Eu penso, eu crio, eu projeto, eu, eu, eu. O design vai além do singular, vai além da centralização da pessoa e de como pensa, deseja, necessita. Mas de maneira geral, somos levados a este tipo de comportamento e de pensar. Em nossa fase mais criativa e mais aberta à projeção de cenários diversos e com a capacidade de entender e sentir os elementos não-humanos e toda a sua potencialidade de modificar e ser modificado, somos podados por culturas estruturalistas e limitantes, cheias de padrões e de indução ao pensamento egocêntrico do humano.
Resgatando algum momento que me senti mais capaz de ser chamada de designer, sou remetida a infância. Sim, lá naquela época em que eu brincava sozinha em uma pracinha, me via rodeada de possibilidades e de elementos que me levavam a visualizar coisas aparentemente inimagináveis. Cenários que a olhos simplistas, não eram possíveis de se ver. Tudo ao meu redor era um agente possível de transformação e que participava de minhas perspectivas. Quantas vezes me vi fazendo parte de ambientes onde o vento era a rainha que me guiava para seu mundo, onde seu povoado era composto por balanços, escorregas e trepa-trepa e que o seu tele transportador se parecia muito com o gira-gira que fazia parte do parque onde eu brincava. Conversei muito com as formigas, minhocas e as plantinhas que também dominavam os ambientes criados por eles e que me transformavam. A cada história criada em minha imaginação, a cada movimento que estes seres não-humanos faziam para mim, eu me transformava, me libertava, e os transformava também. Quantas vezes me vi sendo apenas um objeto de algo que funcionava totalmente sem eu estar lá. Eu simplesmente observava e sentia.
Foi uma experiência incrível. Voltar ao tempo e resgatar a essência do que é ser designer para mim. Entender que eu na verdade, não sou nada além de uma parte, e não a principal parte. Que a criatividade e capacidade de enxergar além, está disponível para qualquer um que se disponha a perceber, observar, sentir e se importar. Crianças são a representação de humanos que possuem a forma mais genuína de ser designer, de projetar. Talvez seja esse resgate que precisarei fazer, periodicamente, para seguir nesse processo de meta-existir.
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