Não é sobre o pato

A partir da leitura do texto “A experimentação como espaço ambivalente de antecipação e proposição de controvérsias” fui instantaneamente transportada para experiência que tive durante um workshop do LEGO® SERIOUS PLAY®.

O LEGO®, como conhecemos (produto para crianças), são peças de plástico que se encaixam, permitindo inúmeras combinações, e que carregam em si um tom de criatividade, interação e prática imaginativa.

Porém, a tônica que eu gostaria de trazer para esta conversa diz respeito a um grupo de adultos, que é convidado a montar um pato de LEGO®, sob a alegação de que essa prática seria um caminho possível para inovação e para a solução de problemas complexos. Um misto de estranheza e ironia toma conta da sala.

Vencendo a desconfiança, cada um - com o seu pato em mãos - é convidado a esboçar uma cena onde há um conflito e é preciso delinear uma solução. Para esta atividade, recebemos um saco com algumas peças plásticas. Mais cinco minutos de silêncio.

E aí é que a magia acontece…Durante o manuseio, aquelas pequenas pecinhas conseguem afetar, intrigar, dar voz, construir, desconstruir. Definitivamente não estamos mais falando de um brinquedo para crianças. Estamos falando de um novo sentido que é produzido através das mãos. Narrativas sendo construídas em silêncio. Indivíduos sendo transportados para um mundo que não existe, e no âmago deste mundo imaginativo, travando batalhas para resolver conflitos, vencer desafios e imaginar futuros possíveis.

E assim, ao final da noite, cada um segura nas mãos uma construção de peças coloridas. Feio? Grande? Pequeno? Imponente? Simples? Nada disso importava. Aquela experimentação livre e transformadora acontecia - e produzia efeitos - enquanto mãos e mentes estavam em movimento. O resultado não era a combinação de peças. O resultado foi o processo.

Fonte: Meyer, G. A Experimentação como Espaço Ambivalente de Antecipação e Proposição de Controvérsias. Revista Estudos em Design. Rio de Janeiro: v.26/n.1, p. 29–47. 2018