Encontro comigo

O último dos três protótipos foi onde comecei a entender melhor o significado da experimentação e de como seria estar aberta para ser "encontrada". Diferente das duas experiências anteriores, onde eu precisei me esforçar para não interpretar o texto ou me aproximar de coisas literais, desta vez optei por me deixar mais livre possível da necessidade de planejar algo e do compromisso da data da entrega. Os dias foram passando e um certo momento me conectei com um recipiente metálico, um bowl de cozinha, que fez sentido para mim e entendi que poderia ser algo do protótipo nascendo. De uma maneira muito intuitiva, passei a semana coletando objetos que surgiam na minha rotina e que pareciam me procurar. Colocava no recipiente tudo o que se conectava comigo. Pequenas fotos encontradas numa gaveta onde mexi, uma lapiseira muito antiga, um ramo verde que se desprendeu de um arranjo, uma cédula de dinheiro, entre outros. Num primeiro momento, não tentei buscar explicação, justificativa ou associação daqueles objetos com o protótipo. Os objetos foram aparecendo e pedindo para pertencer ao recipiente.

No dia da entrega, no entanto, sentei com o protótipo próximo a mim e pensei em tudo o que estava ali e tentei refletir sobre as diferentes razões. Concluí que tudo que estava ali, continha algo de alguma Fernanda, seja de hoje ou do passado. Por fim, os bonecos de lego entraram em cena nesta última fase de construção do protótipo, na busca de representar esses diversos "eus" que assumi e assumo na minha trajetória de vida.

Texto de Referência: Puig da la Bellacasa, M. (2011). Matters of care in technoscience: assembling neglected things. Social Studies of Science, 41(1), 85-106.