Da Recursividade
- Angelix Borsa
- 16 de set. de 2021
- 2 min de leitura
Como se projeta ontologicamente? O que é, de fato, projetar ontologicamente? O Design Ontológico, como apresentado por Willis, abastece-se das nascentes propostas por Heidegger, porém, para quem observa atentamente, há outros rios que podem preencher o nosso entendimento sobre projetar ontologicamente.
Veja bem, estimade leitore, ao abrirmos os nossos horizontes para o conhecimento, navegamos rumo a compreensões mais rebuscadas de nossa presença no mundo, e sobre os sistemas que entrelaçam-se no mundo. Aquelus que já conhecem minhas palavras - e que estão atentes à minha metalinguagem - devem ter percebido por qual rio navego nesses rápidos parágrafos e nesse processo de prototipação.
O Design Ontológico, para a autora, firma seus pés no círculo hermenêutico de Heidegger, que postula que: nós nos tornamos seres na linguagem, nós nos apropriamos e modificamos a linguagem enquanto seres comunicantes, e em troca a linguagem também nos modifica na medida em que nos comunicamos através dela. Essa noção de circularidade hermenêutica é, de certa forma, similar a recursividade, um dos três conceitos que rege a Complexidade de Morin, em que sistemas influenciam e são influenciados pelos meios ambientes aos quais pertencem. Um desses meios ambientes sendo a linguagem.
É ao projetar ontologicamente que entendemos a natureza complexa dos nossos mundos/processos/projetos/objetos/relações, enfim, sistemas, e as suas inter-relações, afetações, construções e habitações. O Design Ontológico é o espaço conceitual em que encontramos solidez, no campo do design, para direcionarmos as correntes do saber e preenchermos nossas bacias semânticas com conhecimentos para que possamos formalizar nossos próprios processos de (i)materialização de coisas. Não só estamos circunscritos em um projetar/sendo projetados recursivo, como as diferentes categorias e especificidades dos designs estão todas imbricadas umas nas outras, de modo inseparável. Mesmo que direcionemos nosso foco para uma categoria específica, as outras estarão ali também, o que é dizer que o design é hologramático (outro conceito que rege a complexidade), que postula que o todo está na parte, e a parte está no todo, como um pixel de um holograma.
Projetar ontologicamente, então, é operar complexamente nos processos de produção dos mundos, e ser, também, produzido e operado pelos processos dos mundos. É funcionar de modo ecossitêmico, recursivo, dialógico e hologramático, criando, descriando e recriando, sinergias processuais inter-relacionais entre sujeitos e agentes projetantes.
Ainda na busca por representações não euclidianas, trago a recursividade e o holograma como movimentos circulares ora em sobreposição, ora em afastamento. Quais as fronteiras e as transformações daquilo que se transforma ecossistemicamente em movimentos recursivos? Há fronteiras? Há a necessidade de fronteiras?

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