Cacofonia e simbiose

Ouço ruídos. Uma ruptura. Já não me contenho no silêncio reconfortante dos traços desenhados pela imaginação no papel. O que vocês desejam? Observo. Olho para os meus esboços e percebo que a maçaneta parece não ter nenhum sentido. Como no texto, para falar a bem da verdade. Mas é uma boa representação do passado. Todo o meu respeito à Ortega e Gasset. A maçaneta vai ficar. Observo.

São muitos rostos, muitas realidades diferentes, muitos desejos. Juntos, eles ganham um novo sentido, muito diferente do que eu havia imaginado. Transitoriedade é a primeira palavra que me ocorre. Penso na minha finitude, e na finitude das relações que se iniciam e findam a cada novo trabalho. Vou acrescentar um cronômetro. Me parece pertinente. Os rostos que aparecem e desaparecem me causam desconforto. Estão satisfeitos? Ou foram esquecidos, desperdiçados, desanimados, destituídos? E aqueles que estão escondidos? Não consigo ver todos. De repente me dou conta que eu poderia tê-los colocado, ao menos, lado a lado. Estes espaços vazios parecem buracos negros desalinhados, e começo a me incomodar com os rabiscos que coloquei. Sem falar nos sons, cuja compreensão me é inteligível no momento. Retiro os sons e substituo por um som de pessoas em um bar de jazz. Se é para ser caótico, que seja com estilo! Começo a rir, mas confesso que há uma carga forte de ansiedade. Talvez porque eu esteja me defrontando com a estranha sensação de que o Design Estratégico é uma espécie de missão Hercúlea. Algo inacessível para aqueles que não tem o afeto dos deuses do Olimpo. Como é possível transitar na complexidade? De onde veio a ideia dos efeitos de uma tv antiga? Está tudo muito ruim! Vou ao After Effects novamente com a firme convicção de que vou arrumar esta bagunça. Afinal sou designer. Ver, antever, comunicar e tal...

Não estou conseguindo alinhar as imagens. De qualquer forma que as manipulo, elas me desafiam. Fico com a sensação de que perdi algo nas aulas de produção audiovisual. Sério? ME IRRITEI! Vai ficar assim. Estou em paz. Uma paz com pitadas de derrota.

Assisto mais uma vez. Volto para o texto. Ainda não recolhi a bandeira. Posso fazer melhor.

De repente, aquela história da maçaneta me chama a atenção. Leio novamente e percebo que faz muito sentido. Este conjunto, assim imperfeito e diferente do que eu imaginei, saiu de sua pontualidade. Não é mais o produto acabado das minhas ideias, algo familiar, mas um ator que está dialogando comigo. Questionando. Incomodando.

A maçaneta! A MAÇANETA! Esse cara é um gênio!

Vou novamente ao After, mas para colocar a maçaneta e as pessoas lado a lado. Um Post It virtual para lembrar que preciso explorar esta simbiose, como um caminho possível e agregador para o diálogo e a convergência. Procuro um movimento para representar isso no final junto com um som sereno, que simboliza a trégua que eu e o meu protótipo estabelecemos. Por hora.