Navegar é preciso. Viver não é preciso.

 Viver é impreciso e demanda adaptações constantes da rota de navegação. Assim, ao estudar ciência e tecnologia, é  preciso valorizar o cuidado e a atenção às implicações éticas e políticas de cada escolha - uma consciência dos efeitos ético-políticos de relatos construtivistas em Science and Technology Studies. A atenção à preocupação nos aproxima de uma noção de cuidado. No entanto, há um aspecto ‘crítico’ do cuidado que tende-se a ignorar. Baseando-se na política do conhecimento feminista. É possível alcançar este “outro olhar”, que contempla questões desimportantes para o Capitalismo, reconhecendo a complexidade e as consequências de estudos científicos e tecnológicos focados no aspecto crítico do cuidado -incluindo questionar e desafiar estruturas existentes. Porque viver é impreciso - uma experiência singular e imprevisível, da qual podemos apenas projetar possibilidades plurais. Viver no século XXI é exaustivo e demanda o gerenciamento da sobrecarga de informação, através de inteligência estendida, inteligência coletiva e rotas de fuga. O celular como ferramenta de navegação pode ser rota de fuga, quando Viver pesa e carece de poesia (ou jogo, ou rolagem de tela para desligar a mente); mas também pode funcionar como  dispositivo de conexão com a rede e desconexão com a realidade física - quando esta está desinteressante ou dolorida; e ainda como inteligência estendida, para acessarmos informações fora da nossa memória ou fontes de aprendizado, tornando-se uma possível rota de fuga da vulnerabilidade econômica. Todavia, as armadilhas nas teias de Techne, na World Wide Web, multiplicam-se em escala. Nenhuma tecnologia é inocente ou nasce despida de curvas e linhas que a fazem Dispositivo. É preciso estar ciente de vieses e interesses, para  manter o olhar crítico, capaz de notar e considerar sinais para além da primeira camada de informação. Navegar é preciso, porque é necessário experimentar o mundo como se coloca ao nosso redor, não como um sistema de modelos que podem ser ensinados em aula, mas através da interação consciente, cuidadosa e crítica, capaz de possibilitar novos caminhos em direção a uma sociedade mais justa e saudável - cenários com os quais é preciso importar-se cuidadosamente.